É inevitável. No mercado de saúde suplementar, em todo fim e começo de ano as conversas acabam sempre convergindo para as expectativas em relação aos reajustes de planos de saúde no novo ano que está começando.
Aqui na Arquitetos da Saúde, sempre dizemos que não temos bola de cristal e não gostamos de exercícios de futurologia, mas como atores desse mercado também não podemos nos furtar em apresentar o que está se desenhando com base nas nossas análises do presente.
Neste texto, portanto, falaremos sobre algumas perspectivas em relação aos planos de saúde em 2025, principalmente em relação ao seu custo e reajustes, com foco nos planos empresariais.
Período recente
Já sabemos que a pandemia gerou inúmeros reflexos no mercado. Em 2020, houve o represamento de procedimentos e o medo de redução dos beneficiários por causa da estagnação econômica. Na prática, os anos seguintes foram de crescimento de beneficiários. Se o represamento a princípio reduziu muito o custo médico, nos anos seguintes o custo foi retornando ao seu patamar habitual.
O perfil do contratante também mudou. Planos coletivos por adesão diminuíram e os planos empresariais de 1 a 5 vidas cresceram tanto quanto o número de microempreendedores individuais no Brasil. Essa nova dinâmica fez com que as operadoras comercializassem planos a preços menores para ampliar o mercado, se aproveitando de uma massa que ingressou à formalidade da pessoa jurídica, consumidora ávida por serviços de saúde.
A expectativa de que esses novos entrantes estivessem pagando preços menores pelos planos é reforçada pelo fato de que em 2022 o número de beneficiários cresceu em 1,5 milhão, mas a receita de contraprestação caiu 6%. E, aí, a conta não fechou. A sinistralidade aumentou muito mais em função da diminuição das receitas do que do aumento do custo médico.
Em 2023 a solução das operadoras, para os contratos coletivos, foi recompor suas perdas nos reajustes de contratos, que chegaram próximo a casa dos 20% – o que perdurou até metade do o ano de 2024 e diminuiu justamente porque o índice de reajuste para os pools de risco foi reduzido nas principais operadoras.
Analisando a VCMH Brasil AQS, calculada pela Arquitetos da Saúde, os reajustes elevados só se justificam de fato em 2022, porque eles apontam que em 2021 o índice foi realmente “fora da curva” em função da super compensação se retornarmos até 2020. Veja:
Ano | VCMH Brasil AQS |
---|---|
2014 | 11,88% |
2015 | 14,43% |
2016 | 16,48% |
2017 | 10,02% |
2018 | 10,29% |
2019 | 13,86% |
2020 | -8,45% |
2021 | 17,56% |
2022 | 8,78% |
2023 | 11,66% |
É claro que a sinistralidade também pesou nesses reajustes na casa dos 20% – ela chegou próximo aos 90% em alguns momentos durante 2021 e 2023 – e por isso o movimento de reposição das perdas, por parte das operadoras, por meio dos contratos.
Como fica agora?
Cinco anos depois da pandemia, é inevitável questionar: reajustes próximos aos 20% são o “novo normal” no mercado da saúde suplementar? Não são – mas, ao mesmo tempo, é difícil dizer quando exatamente o mercado voltará ao que era considerado normal antes de 2020, com reajustes na casa dos 16% ou menores.
Há indicadores que mostram uma melhora de cenário em 2024. Operadoras voltaram a registrar lucro, ainda que com margens pequenas, mas bem parecidas com o período anterior a 2020, muitas carteiras conseguiram reduzir sua sinistralidade para os patamares pré-pandemia (na casa dos 83%).
Dados do Painel Econômico-Financeiro da Saúde Suplementar relativos ao terceiro trimestre de 2024 mostram um lucro líquido de R$ 8 bilhões das operadoras médico-hospitalares, consolidando um movimento de recuperação iniciado ainda em 2023. Já demonstramos aqui que essa retomada deve ser analisada com cautela.
Cobrança maior
Como há resultados positivos que parecem ser sólidos, haverá também uma cobrança da sociedade sobre as operadoras. Principalmente em relação aos preços, mas também para a entrega de mais qualidade assistencial.
De qualquer forma, na saúde suplementar, assim como em outros mercados, as más notícias chegam rápido e as boas demoram um pouco mais. Se os reajustes subiram muito da noite para o dia, não é da mesma forma que eles vão retroceder.
Respondendo objetivamente, 2025 deve sim ter reajustes menores nos planos de saúde em relação ao período recente, mas talvez não tão menores – e certamente não nos níveis esperados pelos contratantes. Não temos mais uma pandemia, mas esse cálculo ganhou outros componentes, como o fim do limite para terapias (cujos impactos demonstramos aqui), a definição do Rol da ANS como exemplificativo e novas inclusões no rol que têm gerado muita polêmica e discussão, tais como medicamentos de alto custo.
Um puxão de orelha
Neste texto, falamos apenas do fator custo nos planos de saúde, como se ele fosse o item mais avaliado na hora da contratação. Sabemos das dificuldades financeiras em absorver os custos de um plano de saúde, especialmente nos últimos anos, mas em vez da expectativa quanto ao custo, ainda priorizamos o preço de entrada ou a sinistralidade alta como se ela não tivesse relação com uma demanda conhecida dos gestores e que precisa estar refletida no preço estabelecido para o contrato coletivo.
Os planos de saúde devem estar alinhados com os interesses das empresas, e isso deve estar bem definido primeiro. Também seria importante que as operadoras investissem ou ampliassem significativamente seus programas de saúde preventiva e APS (Atenção Primária à Saúde), para estimular o cuidado prévio e reduzir a sinistralidade.
Também é preciso exigir mais transparência na hora de negociar e justificar os reajustes negociados. E, nesse sentido, ainda que em curso das discussões, há intenção da ANS para uma mudança de cenário. Só não sabemos ao certo se ainda para 2025 e se as alterações terão a medida certa para promover mudanças positivas ou apenas reduzirão a flexibilidade das operadoras, trazendo no final um índice muito próximo ao que já seria negociado.
Afinal, a busca por equilíbrio técnico está acima de qualquer nova normatização sobre esse tema específico. Mas abordaremos isso nos próximos textos.
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