A foto postada no LinkedIn por Carlos Lobbé, Diretor do Pró-Cardíaco, destacando os 60 anos de vida desta tradicional e renomada instituição hospitalar carioca, deixou-me pensativo e saudoso. Sem pedir autorização, um filme invadiu a minha alma. Fiquei tentando entender se fora uma reflexão sobre a velocidade do tempo ou se fruto do meu testemunho e convívio com esta querida casa. Fiquei na dúvida se deveria escrever algo a respeito na medida em que seria muito pessoal. Mas tomei coragem ao ver algumas belas homenagens em linha com o que sentia e ainda ao lembrar-me do meu pai que nos ensinara a compartilhar os bons sentimentos.
Voltei no tempo e lembrei-me do meu pai nos contando sobre a bela história de um hospital que, muito além do que (parcialmente) concorrente, sempre foi uma instituição amiga. Convivi muito pouco com o Dr. Onaldo Pereira, mas sempre soube que devemos a ele a fundação do Pró, a partir da criação de um serviço de atendimento domiciliar cardiológico de urgência, no Rio de Janeiro. Ainda na minha infância, recordo-me de ver uma de suas ambulâncias chegar à casa de um amigo do meu pai para socorrê-lo. Esta foi a primeira de muitas lembranças desde então.
Segundo pesquisei, para não deixar de registrar algumas de suas importantes conquistas, “o Pronto-Socorro Cardiológico Pró-Cardíaco foi fundado no dia 9 de novembro de 1959 em algumas salas do então Hospital dos Radialistas, no Humaitá. Tudo de que se dispunha era um eletrocardiógrafo, uma ambulância alugada e a competência dos profissionais que aderiram à iniciativa.” Certa vez ouvi falar que foi em um congresso de outra especialidade (já não me recordo qual) em Buenos Aires, que o Dr. Onaldo se encantou por esta desconhecida tecnologia, rapidamente a importando, para em tempos depois dar luz ao hospital. A veia empreendedora e inovadora do Dr. Onaldo e seus sucessores não parou por aí seja pela ótica de gestão, assistencial ou mesmo ensino e pesquisa. Aliás, certa vez fiquei sabendo que logo nos primórdios do hospital, Dr. Onaldo introduzira o conceito de participação nos lucros entre os funcionários, algo impensável à época.
Em 1968 foi inaugurada a primeira unidade coronariana em hospital privado no Rio de Janeiro. Já em 1980, surgiu a primeira máquina de hemodinâmica. Quatro anos depois realizou-se a Primeira Jornada Cientifica e, após três anos, criou-se o Centro de Ensino e Pesquisa (PROCEP) que, por sua importância, veio a ser posteriormente credenciado por órgãos como os Ministérios da Ciência e Tecnologia, da Educação e da Saúde para coordenar pesquisas multicêntricas e formar novos talentos. No ano de 1987, sob a coordenação do médico Rubens Costa Filho, o Pró inaugura um CTI geral exemplar para os padrões da época, o que contribuiu, na ocasião, para que a instituição se transformasse em hospital geral com especialização em cardiopatias.
Em 1996, um novo marco. Com a iniciativa e coordenação da incansável e competente cardiologista Dra. Rosa Célia, deu-se início ao projeto Pro Criança Cardíaca, possibilitando inclusive o acesso a crianças carentes. E o Pró não parava. Em 2001 deu-se início a um estudo clínico em parceria com o Texas Heart, onde pacientes foram submetidos a injeções de célula tronco. Mais à frente vieram as certificações internacionais assim como as primeiras cirurgias de implante de coração artificial. Tempos depois vi o Pró-Cardíaco inovar novamente, mas de uma forma diferente, simples e genial, coordenada pelo querido amigo Ary Ribeiro. Foi a primeira vez que vi uma campanha pública de divulgação de indicadores do hospital, dando transparência e compartilhando conhecimento sobre boas práticas assistenciais com a população. Algo, aliás, que os prestadores de serviços médico hospitalares precisam urgentemente retomar.
Independentemente de toda a inquietação de sua liderança e dos avanços constantes da instituição ao longo dos 60 anos de excelentes serviços prestados, quero destacar uma delas. Que fique bem claro que não há qualquer demérito aqueles que o antecederam e mesmo sucederam, mas simplesmente o fato de ter sido aquele com o qual mais convivi e aprendi. Refiro-me ao Dr. Francisco Eduardo, a quem aprendi a carinhosamente chamar, desde nossos primeiros encontros, de Chico.
Chico tem um lugar especial e eterno no meu coração, assim como, tenho certeza, de tantos outros. Chico começou a me conquistar em 1999, quando gratuitamente e quase que instantaneamente apadrinhou-me assim que assumi a presidência do Sindhrio, o sindicato patronal de hospitais privados do município do Rio de Janeiro. E, não foi por outro motivo que, em meu discurso de despedida do Sindhrio, em 2006, emocionei-me ao falar dele. Desde então, por ter sentido na pele a importância de sua atitude acolhedora, procurei replicar este mesmo comportamento ao longo de minha vida.
Desde então, Chico esteve sempre presente, inclusive nas horas mais difíceis, prestigiando a entidade, de forma sempre humilde, com sua sabedoria e imensa capacidade de aglutinar pessoas. Um homem de uma simplicidade incrível, bem-humorado, ético, respeitoso, competente e conciliador. Chico nos abraçava com suas atitudes, transpirando uma energia que nos acolhia.
Em tempo: pelo que já escutei recorrentemente de alguns dos membros de um dos grupos do Vistage Brasil (consultoria de empresas na área estratégica que reúne CEOS de indústrias diversas) do qual Chico participa ativamente há mais de uma década, também lá ele é visto desta forma. Quando abre a boca para falar, todos param para escutar. Chico tem uma capacidade incrível de invadir e se alojar no coração de todos aqueles que têm a rica oportunidade de conhecê-lo. Não sei bem se ele tem a dimensão disso. É um eterno doador e veio a este mundo para torná-lo melhor.
Se Dr. Onaldo foi o empreendedor ousado e visionário, Chico, por sua vez, me parece ter sido aquele que fez a releitura do Pró, consolidando os pilares e marcos (aqui já citados) da instituição e construindo sua sustentabilidade. Além de perpetuar o DNA de tradição, medicina da alta qualidade, espírito público (ainda que fosse uma entidade privada com fins lucrativos) e inovação do Pró-Cardíaco, soube costurar cuidadosamente as relações com seus pares, sócios, herdeiros, parceiros e concorrentes. A sua história confunde-se tanto com a do Pró que, neste momento, carinhosamente, peço permissão para chama-lo de Pró (Chi)cardíaco.
Naquele período pude ainda conhecer e conviver com outros excelentes profissionais, cujas histórias também se misturam com a do Pró, e com os quais desenvolvi uma relação de profundo respeito e admiração. Refiro-me a Hans Dohmann (vice no meu primeiro mandato à frente do Sindhrio), João Luiz Ferreira Costa, a quem conheci em 2001 nas origens da criação da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), o eterno mestre Evandro Tinoco e o excepcional intensivista Rubens Costa Filho.
Ao seu atual Diretor Carlos Lobbé e tantos outros que, peço desculpas por não ter citado, os meus parabéns por este aniversário. Ao Chico e demais fundadores, meu abraço e admiração por esta importante obra que tanto orgulha o Rio de Janeiro e o Brasil.
P.S. Mas e o Chico, por onde anda? Sua mente inquieta e curiosa não para. Recentemente me convidou para conhecer uma start up de saúde de um jovem empreendedor. Esse é o querido Chico, eternamente preocupado em contribuir com a saúde do nosso país.