Construindo evidências para tomadas de decisão
A Conferência Técnica
Fomos contratados por um hospital de São Paulo para fazer uma análise técnica das contas médicas pagas apresentadas pela operadora. O cliente queria ter certeza sobre a forma de apropriação destas contas já que estava num modelo de pós-pagamento, quando a despesa médica é de sua total responsabilidade, mas não tinha condição de fazer a avaliação para encontrar eventuais inconsistências e negociar uma revisão ou acertos. Ao analisarmos o banco de dados da operadora, encontramos uma diferença de cerca de R$ 125 mil entre o cobrado do cliente e o que constava neste banco apresentado. Quando entregamos o relatório com a diferença de valores, propusemos também um caminho para a eventual cobrança, sempre com o cuidado para não colocar em risco a relação comercial entre o hospital e operadora. Neste caso específico, além da relação de contratação do plano médico para seus colaboradores, o hospital também faz parte da rede credenciada da operadora.
A conferência técnica é a análise e construção de evidências a partir do banco de dados da operadora (cadastro e contas médicas), políticas de benefícios e contratos relacionados ao plano de saúde empresarial. Por meio disso, é possível rever processos e corrigir práticas de maneira técnica e embasada, permitindo revisões que impactem no custo ou, até mesmo, na construção do caminho de perenidade do benefício. Geralmente esta necessidade surge nas empresas em meio a uma situação urgente ou de desconfiança e parte do pressuposto de que a empresa tem consciência que precisa solucionar uma demanda cujos caminhos ela não conhece. Nestes casos, tomar decisões baseadas só no bom senso pode não ser suficiente.
Em outra situação, uma empresa que atua no setor de tecnologia para a área de saúde, com 1,5 mil vidas no plano empresarial, nos encomendou uma conferência técnica para saber qual saving ou investimento teria ao migrar da contribuição fixa para a variável em coparticipação. Em função da nossa análise, a operadora concedeu um desconto de 5% na mensalidade dos planos da empresa, além da não aplicação do reajuste naquele ano, caso a coparticipação fosse implementada. Isso representou uma economia de quase meio milhão de reais por ano.
A conferência técnica nada mais é do que conhecer o correto dimensionamento dos problemas que a empresa tem com o plano de saúde e dar uma solução. Como o plano de saúde é um tema tão importante nas empresas e muitas vezes obrigatório para cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho, muitos desperdícios podem ser evitados pela análise técnica. Ainda que seja por desconhecimento sobre certos assuntos, uma conferência técnica preventiva pode contribuir para antecipar e evitar problemas que são comuns no setor como um todo. Há quanto tempo o reajuste dos planos de saúde coletivos permanece acima da inflação? Há quanto tempo a sinistralidade do setor está acima dos 80%? As empresas precisam compreender como atuar sobre estes problemas na causa e não apenas nos seus efeitos.
Em uma entidade que agrega empresas do setor industrial, a conferência técnica foi capaz de embasar a negociação do reajuste anual do plano de saúde. A operadora apresentou um índice de 34% e a instituição, por sua vez, fez a contra proposta de reajuste zero. A análise indicou que o número técnico era de 10% para o reajuste. Depois da ancoragem técnica, o reajuste foi bem próximo ao sugerido com base na análise. É verdade que descontos sempre podem ser negociáveis, mas a partir de uma conferência técnica é possível conhecer e sustentar o valor que mais condiz com a manutenção do plano médico.
No plano de saúde empresarial qualquer ineficiência é repassada no reajuste. Já a eficiência, antes de ser repassada ao contratante, é margem de lucro da operadora. Por isso é fundamental que as empresas apoiem a fundamentação de suas análises por meio de uma conferência técnica.
