Entrevista: O poder das empresas para promover mudanças na lógica assistencial | Arquitetos da Saúde
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Entrevista: O poder das empresas para promover mudanças na lógica assistencial

Nesta entrevista, o diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Rodrigo Aguiar, fala sobre a importância das empresas como grande porta de entrada do beneficiário na saúde suplementar e sua consequente influência na qualidade de vida, custos do setor e poder para induzir a tão esperada mudança na lógica assistencial.

Qual a sua visão sobre o papel das empresas – que, ao fim, são as que patrocinam a maior parcela dos planos de saúde no Brasil – para a sustentabilidade e perenidade da saúde suplementar?

Rodrigo Aguiar: De fato, as empresas são, em grande maioria, a porta de entrada do beneficiário na saúde suplementar, já que os planos coletivos empresariais são responsáveis por mais de 30 milhões de beneficiários em um total de aproximadamente 47 milhões de usuários de planos de assistência médica. Se tiverem uma atuação ativa na gestão de saúde de seus funcionários, as empresas podem influenciar na qualidade de vida deles e, consequentemente, na sinistralidade e nos custos do setor. É fundamental que elas assumam esse papel e orientem seus funcionários, conscientizando-os da importância da prevenção e do não desperdício na utilização dos planos de saúde, contribuindo para o controle de custos e para o aumento de qualidade do serviço prestado. As empresas, como principais contratantes, têm um poder muito maior do que imaginam, pois podem se valer dessa posição para induzir uma mudança de lógica assistencial, com foco na saúde e não na doença. A prevenção pode até ter um custo relativamente alto no início, mas tem potencial para evitar custos mais altos no futuro, tratando problemas que poderiam vir a se transformar em quadros crônicos. Sendo assim, as empresas devem agir como facilitadoras, fazendo a interlocução com as operadoras de planos de saúde para pleitear ações voltadas à melhoria da saúde dos beneficiários, seja por meio de programas internos de saúde do trabalhador ou com o desenvolvimento de outras formas de incentivo, como programas de promoção da saúde e prevenção de riscos.

Sabemos que a ANS tem procurado estreitar o relacionamento com as empresas a partir de iniciativas como, por exemplo, evento para compradores de planos de saúde. Que outras iniciativas existem neste sentido?

Rodrigo Aguiar: A ANS entende que essa aproximação e a manutenção de um canal permanente de diálogo com as empresas contratantes de planos de saúde são essenciais. Pretendemos dar continuidade ao que foi iniciado com a edição da Resolução Normativa nº 389/15, que ampliou a transparência das informações sobre os planos ao obrigar as operadoras disponibilizarem um conteúdo mínimo obrigatório aos beneficiários e às pessoas jurídicas contratantes. Com relação ao evento mencionado, ocorrido em 2018, há a intenção de se promover uma análise dos resultados obtidos com a obrigação de fornecimento do extrato pormenorizado de reajuste dos planos coletivos e, eventualmente, e com a ajuda dos contratantes de planos de saúde, ajustar a norma de forma a facilitar a leitura dos dados que são encaminhados pelas operadoras pelas empresas. Qualquer iniciativa nesse sentido será amplamente discutida com a sociedade e não está descartada a possibilidade de novos eventos serem agendados com intuito de dialogar com essa parte essencial do mercado da saúde suplementar.

Recentemente a ANS publicou um trabalho sobre a reorganização de atenção à saúde suplementar. De que forma as empresas contratantes podem se beneficiar de iniciativas como esta?

Rodrigo Aguiar: Na saúde suplementar, o senso comum indicava que o melhor plano era aquele que possuía uma ampla rede de médicos especialistas e de hospitais. As empresas contratantes guiavam-se muitas vezes por essa lógica. A iniciativa da ANS de reorganização da porta de entrada, com base em equipes estruturadas de generalistas, beneficia diretamente os usuários e, por conseguinte, as empresas que contratam planos para seus colaboradores. Este benefício reflete-se tanto do ponto de vista assistencial – pois o usuário passa a encontrar respostas mais rápidas, adequadas e coordenadas às suas necessidades de saúde, sem necessidade de peregrinação por diversos especialistas e unidades de saúde –, quanto do ponto de vista da sustentabilidade do plano, que depende da eficiência da gestão em saúde para continuar viável.