Arquitetos da Saúde

Que tipo de plano de saúde eu tenho?

Life and health insurance policy concept idea. Finance and insurance.

Com alguma frequência sou perguntado a respeito do plano de saúde que tenho.  Ao responder esta pergunta, que não é nada simples, procuro ser bem didático de forma a fazer com que aquele que me pergunta reflita sobre o tema antes de sair escolhendo o primeiro que lhe é oferecido.

A primeira consideração que faço é de que, do ponto de vista literal, infelizmente eu não tenho um plano de saúde. Assim como de imediato já afirmo, para surpresa daquele que me pergunta, que ele também não o tem. E vou além, informando que a imensa maioria das pessoas que têm planos de saúde ligados às empresas comerciais (operadoras de planos de saúde que têm como negócio a venda deste produto) também não o têm. E por que isto?

É simples: o que temos é um produto com duas características. Em primeiro lugar, ele nos garante a cobertura de procedimentos e tratamentos relacionados a potenciais ou reais doenças. Em segundo lugar, não há por parte da imensa maioria das operadoras de planos de saúde políticas efetivas de saúde ou mesmo incentivos para que nos mantenhamos saudáveis.  Um triste exemplo que confirma esta afirmação pode ser constatado a partir de uma análise da resolução normativa 265, criada exatamente com o objetivo de trazer bonificações e premiações para indivíduos que participem de programas de gestão de saúde oferecidos por operadoras de planos de saúde. Porém, passados mais de quatro anos de sua publicação, até onde pude constatar, inexistem produtos registrados na ANS que atendam a este fim. Portanto, o meu, o seu e os demais planos de saúde, são seguros que cobrem o pagamento de despesas relacionadas a doenças, na medida em que inexistem políticas de saúde atreladas aos mesmos.

Feita esta consideração, vamos adiante. O meu plano de cobertura de tratamento de doenças (insisto em não chamar de plano de saúde para fins desta reflexão) cobre apenas despesas hospitalares. No passado bem longínquo até me fizeram uma proposta de incluir cobertura ambulatorial, mas não quis por achar que não fazia sentido. Explico o porquê. Ora, se a minha operadora (assim como a sua, já lhe disse) não tem uma visão integral a meu respeito e ainda por cima carece de políticas de saúde, eu enxergo o produto que tenho como um seguro e ponto. Ou seja, se o mesmo não é um plano de saúde, por que eu haveria de aumentar o meu desembolso apenas para dar cobertura adicional ao pequeno risco (consultas e exames)?  Eu não tenho um seguro para cobrir o baixo risco e sim o grande risco que, no caso da saúde (ou melhor, da doença) refere-se à cobertura de despesas de internação. Este sim é o risco que pode fazer com que tenha que vender um bem móvel ou imóvel para quitá-lo na ausência de um seguro. Falando em bens móveis, tampouco fazemos um seguro de automóvel tendo como prioridade a cobertura de vidros ou acessórios, mas sim para nos protegermos de roubo, perda total, incêndio e/ou grandes danos. Por mais danoso que possa ser o pequeno risco ele não desequilibra de forma significativa o patrimônio de um indivíduo. E é esta mesma lógica que uso para fins de manutenção do meu plano de saúde.

Mas se isto faz sentido, o que explica o fato de que aproximadamente apenas 1% dos planos serem de cobertura hospitalar? Até bem pouco tempo atrás eu diria que era uma questão cultural por parte do indivíduo (que achava que quanto mais melhor) e financeira por parte de operadoras de planos de saúde, administradoras de benefícios e corretoras de planos de saúde (que não queriam abrir mão de prêmio). Mas hoje, num cenário de crise e com o histórico de aumentos de dois dígitos nos últimos anos, começamos a ver os próprios intermediários oferecendo como opção para seus clientes produtos de cobertura apenas hospitalar. Se a restrição de orçamento é uma realidade, racionalmente para mim faz muito mais sentido abrir mão de cobertura do baixo risco (exames e consultas) do que da qualidade da rede assistencial de hospitais. Ou seja, prefiro ter que pagar vez ou outra uma consulta ou exame, mesmo que especial, e deduzir estas despesas no meu imposto de renda, do que abrir mão dos hospitais de minha preferencia caso venha a precisar.

Uma terceira recomendação que sempre faço está voltada para aqueles que, como eu, ainda têm planos individuais. Façam a adaptação do seu plano de saúde. E o que isto quer dizer? Segundo a ANS “contratos adaptados têm as garantias trazidas pela regulação do setor tais como regras de reajuste, portabilidade de carências e garantia às coberturas mínimas obrigatórias listadas no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde. A lista de procedimentos cobertos pelos planos de saúde é atualizada a cada dois anos para garantir o acesso ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento das doenças através de técnicas que possibilitem o melhor resultado em saúde, sempre obedecendo a critérios científicos comprovados de segurança, eficiência e efetividade.”  A atualização das coberturas mínimas é fundamental a meu ver tendo em vista que prevê parte da evolução tecnológica que surge continuamente no segmento saúde como, por exemplo, medicação oral para o câncer. Já contratos não adaptados pararam no tempo em termos de coberturas.  Naturalmente que existe um ajuste no valor a ser pago referente à adaptação que, segundo a RN 254, não pode exceder 20,59%.

Como ultima consideração, sempre procurei estar atrelado a uma operadora que tivesse sólidos indicadores econômico-financeiros. Neste particular, tenho preferência pelas seguradoras embora reconheça umas outras poucas às quais também consideraria contratar. Não basta estar com o produto certo e ter o mesmo adaptado. Conhecer e acompanhar a saúde financeira da empresa assim como os demais indicadores disponibilizados no site da ANS e/ou no portal saúdedados.com, também é recomendável. As reflexões acima trazem questões pessoais, mas também de cunho técnico. Mais do que se tratar de uma receita de bolo o objetivo aqui é provocar reflexões para aqueles que me questionam, de forma a traçarem um roteiro para fazer as suas escolhas.