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Fusões e aquisições no mercado de saúde: quem ganha com isso?

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Fusões na saúde: mudanças no tabuleiro

Não há como fugir dessa discussão. Nos últimos dois anos, o setor de saúde lidera o ranking de fusões e aquisições e reúne as maiores operações de compra de empresas no Brasil. Segundo reportagem recente publicada no jornal Estado de S. Paulo, em 2021 foram cerca de 150 transações que movimentaram mais de R$ 20 bilhões.

O que isso representa, na prática, para o mercado de saúde suplementar e seus atores? E, principalmente, o que muda para o contratante (financiador) e usuários de planos de saúde empresariais? É o que discutiremos nesse artigo.

Estratégias e interesses

Primeiro, vamos tentar entender o que motiva essa onda de fusões e aquisições. Principalmente sob o horizonte da concentração de operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços médico-hospitalares, além da verticalização das operadoras. 

Entre os benefícios esperados desses movimentos estão o aumento de acesso à saúde suplementar e os ganhos de escala.

A verticalização, como já falamos bastante aqui no blog, é um processo que tem se intensificado como estratégia de crescimento de operadoras, a partir da oferta de planos mais baratos num contexto de restrições econômicas de financiadores de planos de saúde. Ao alinhar os incentivos sob a ótica da operadora, que passa a dominar toda a cadeia – planos de saúde e prestação de serviços – é possível reduzir custos e aumentar o acesso.

Fenômeno crescente

A concentração tanto de operadoras de planos de saúde quanto de redes de prestadores de serviços médico-hospitalares também é um fenômeno crescente no setor. Segundo o relatório de Atos de Concentração do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), foram 46 atos de concentração no setor em 2021, um recorde absoluto desde o início da série histórica, em 2001.

Do lado dos prestadores, o crescimento de uma operação permite a diluição de custos e aumento do acesso. Ainda que positivo, é curioso observar que muito pouco tem sido dito sobre os benefícios assistenciais que os ganhos de escala trazem. Ou seja, o que muda em termos de qualidade, para quem se utiliza dos serviços?

Da mesma forma, a concentração de operadoras pode ser positiva quando se eliminam empresas que não tem escala para reduzir seu risco atuarial e/ou sinistralidade. Mas também neste contexto não temos visto menção às melhorias assistenciais deste movimento.

Terceira onda financeira

Tanto a concentração quanto a verticalização, na dose correta, são movimentos bem vindos. Ao mesmo tempo, temos que refletir que, da forma como vem sendo conduzidos esses processos, podemos concluir que estamos na  “terceira onda financeira” do mercado. 

Explicamos. O impulsionamento mais uma vez se dá por questões financeiras. Também foi assim na primeira onda, quando os ganhos eram ditados pela capacidade de melhor se proteger da inflação. Vivemos isto até o surgimento do Plano Real em 1994. Já na segunda onda, a partir da estabilização da moeda,  o condutor foi (e continuam sendo) os modelos de remuneração pautados por volume e não por valor.

E agora, nesta terceira fase, verificamos ganhos de escala, alinhamento de incentivos e aumento de acesso. Ou seja: em vez de três séries distintas, trata-se, na verdade, de três ondas da mesma série, qual seja, a série financeira. Afinal, como já foi dito aqui, ainda não conseguimos medir o impacto que esses importantes movimentos trazem para a qualidade da assistência. 

Benefícios superficiais

Inicialmente, pensando com a cabeça do contratante, assim como do usuário de planos de saúde, pode haver uma oferta maior de produtos de menor preço. Lembremos que foram exatamente os planos verticalizados os que cresceram desde a crise econômica de 2015.

Mas o fato de ser mais barato não necessariamente quer dizer que seja melhor. E, da mesma forma, o inverso é verdadeiro. Em suma, precisamos pautar as escolhas não só pelos preços mas pelos diferenciais de qualidade que continuamos insistindo em não medir e/ou divulgar.

Ainda há o grande desafio de efetivamente demonstrar esse impacto, porque há uma carência na medição desses resultados. Veja bem: não estamos dizendo que a onda de fusões e aquisições vai piorar a qualidade dos serviços. 

Mas também não sabemos se vai melhorar, simplesmente porque esse medição não existe. Da mesma forma que não temos medido os resultados daqueles que não tem participado destes movimentos.

Trata-se de olhar a questão sob a ótica do cuidado, e não do bolso.

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