Arquitetos da Saúde

A Defesa no Board

Ao longo do ano de 2020 traremos uma série de casos reais, abordando temas comuns a diversos gestores de planos de saúde corporativos. O objetivo é trocar informações sobre práticas de gestão, oferecendo um processo de observação ao mercado por meio do qual aprende-se, melhora-se e busca-se a satisfação do cliente. Nesta edição abordamos as questões da Defesa no Board (alta gestão) que acabou se tornando um tema bastante recorrente para nós desde 2019. Demos este título a todas as situações em que o cliente solicitou que apresentássemos pessoalmente os resultados da consultoria à alta direção. 


O momento de coragem de quem quer promover mudança de fato

 A defesa no board é uma questão muito peculiar, pois antes do gestor de benefícios chegar à alta direção da empresa, certamente teve que passar por diversas etapas de convencimento internamente. De nada adianta um bom trabalho técnico, no entanto, se ele não for bem defendido, mas isso tem menos a ver com a capacidade do RH do que com a desconfiança da alta direção em relação ao que é proposto.

Ninguém quer bancar uma decisão que possa ter um preço organizacional muito alto. São decisões que precisam ser tomadas de forma corajosa, mas com todo o embasamento técnico possível para trazer convicção. Grande parte dessa desconfiança muitas vezes vem da forma pouco aprofundada como o assunto é levado à alta direção, quando se aborda apenas o que está à vista: rede, reajuste, produto e troca ou não da operadora. A alta direção, aos poucos e cada vez mais, tem entendido que as decisões estratégicas relativas ao plano de saúde são um assunto muito importante e que decisões equivocadas podem trazer impactos financeiros a médio e longo prazo, formação de passivo atuarial presente e futuro, além de revisão da política de benefícios.

No último ano vivenciamos esta situação em cinco clientes. Em alguns deles fomos provocados a buscar mudanças de dentro para fora da organização, pois a necessidade de mudança já era percebida, mas o board não tinha decisões convergentes o necessário para tomá-las. Em outros clientes fomos chamados para provocar a mudança em situações em que a própria direção definiu que todos os aspectos econômicos, financeiros, de clima organizacional e de políticas de benefícios da empresa tivessem que passar por eles obrigatoriamente antes de serem discutidos e decididos.

Em uma grande empresa varejista, por exemplo, a quantidade de instâncias hierárquicas só permitia evoluir qualquer decisão se fossem utilizadas análises isentas de terceiros, pois o RH, segundo eles, tinha o viés da grande proximidade com os colaboradores. A decisão pela mudança só seria possível, portanto, se passasse pelas várias instâncias de comando da organização, garantindo credibilidade.

Já em uma determinada instituição de pesquisa, era conhecida a necessidade de se promover mudanças profundas na forma de contratação do plano, mas não se sabia como. Ficou clara a importância de uma opinião de especialista de fora, acima de interesses políticos e corporativos. Em outra empresa, entidade representativa de uma atividade econômica específica, com o envolvimento da alta direção foi possível elaborarmos uma defesa técnica para que eles, junto à operadora, tivessem como resultado a redução no reajuste proposto em contrato sem precisar mudar de operadora.

O que motiva ou dá contexto para a nossa ida ao board? Sempre um problema já instalado que se tornou urgente e precisa de direcionamento. Ou seja, uma questão que não pode mais ser negligenciada pela organização em relação ao plano médico, podendo, inclusive, impedir ou colocar em risco a continuidade do benefício, além de proporcionar desperdícios de recursos. Mesmo assim, no final, o que falamos é de coragem em decidir pelas mudanças.

Sempre haverá quem considere que algo pode dar errado ao se fazer mudanças no plano de saúde corporativo e o gestor acaba ficando só na hora de tomar essa decisão. Em algumas empresas o jurídico é conservador em relação às decisões colegiadas a respeito do plano médico, limitando as opções. O RH tem o viés humano se sobrepondo a outras visões. O setor de Suprimentos, por sua vez, sobrepõe sua experiência em compra de insumos ao plano de saúde, o que muitas vezes não se alinha à complexidade deste benefício. É uma generalização com honrosas exceções, é claro, mas isto ainda acontece muito nas empresas.

Numa analogia possível, a consultoria externa é o perito do juiz. O juiz é o comitê executivo, o conselho de administração ou quem quer que tome a decisão dentro da organização. Mas, se todos estão tranquilos para deliberar, então agora é com o presidente!