Arquitetos da Saúde

2022: Um ano nervoso para a saúde suplementar

mercado saúde

2022: apertem os cintos!

Adriano Londres

A paisagem da saúde suplementar vem se alterando de forma exponencial, impondo crescentes desafios para as lideranças ao longo de toda a sua cadeia.  Para contextualizar um pouco mais o assunto, compartilho abaixo um pouco do que testemunhamos em menos de uma década:

O que esperar de 2022 neste contexto de grandes mudanças, novas dinâmicas de mercado, e tantas incertezas e, ao mesmo tempo, expectativas?

Antes de prosseguirmos com esta reflexão, cabe o registro de duas projeções que têm sido divulgadas e que, em se confirmando, tornam o ano de 2022 ainda mais desafiador. Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil deve crescer apenas 0,3% este ano. Em contrapartida, a inflação médica deve ser recorde, ultrapassando a casa dos 15%.

O que farão empresas que contratam planos de saúde (e representam 68% do mercado) para acomodar os aumentos na magnitude projetada para este ano?  Afinal, nos últimos anos, muitas delas já queimaram o estoque de “possibilidades exógenas” visando neutralizar a escalada de custos de seus planos de saúde. Entre elas, destaco o aumento de coparticipação (como revelou a pesquisa de Saúde Corporativa da ABRH Brasil e ASAP de 2020), a troca de operadoras e/ou downgrade para produtos regionais e/ou com rede mais restrita.

O que terão de “munição” no curto prazo? Os corretores em busca de novas receitas a partir de agenciamentos pela troca de operadoras ainda terão espaço? Ou terão as empresas compreendido que a simples mudança de operadora não garante a mudança de comportamento e, consequentemente, da evolução de custos?

Será que os contratantes finalmente entenderão, pelo menos as médias e grandes empresas, que precisam assumir em definitivo a rédea da gestão do benefício e da saúde de seus colaboradores e dependentes? Mas, ainda que o façam, os resultados possíveis nesta direção não têm como ser colhidos no curto prazo.

As operadoras conseguirão repassar os aumentos de custos observados ou terão que “recorrer” a seus fornecedores (a rede de prestadores de serviços médico-hospitalares) para atingir os resultados que esperam? Vejo dois caminhos não excludentes neste cenário. De um lado, pressão crescente por redutores de tabelas e/ou compartilhamento de riscos. De outro, a aceleração da construção estratégica e transparente de relações ganha-ganha com prestadores confiáveis e diferenciados.

E o que dizer a respeito da pandemia? Tivemos avanços importantes na vacinação no Brasil e as novas variantes demonstram ser menos letais. Sairemos afinal de uma fase pandêmica para uma fase endêmica?

Indo além, qual será a curva de crescimento de beneficiários? Será que continuaremos crescendo, como vem ocorrendo exclusivamente durante a pandemia ou esta curva tenderá a desacelerar em função da perspectiva de fortes aumentos dos planos de saúde e crescente dificuldade de custeio do segmento de pequenas e médias empresas, exatamente aquele que mais impulsionou o crescimento do setor?

Como vimos mais acima, os ativos de saúde listados na bolsa tiveram redução expressiva no último ano. Terá o mercado reprecificado estes ativos em função de perspectivas mais conservadoras para o setor? Neste sentido, investidores terão compreensão sobre o momento atual ou pressionaram estas empresas por resultados de curto prazo para atingirem os resultados prometidos? O que esperar destes e, consequentemente de suas empresas investidas?

E as bem-vindas healthtecs para as quais também jorraram vultuosos recursos? O tempo de estruturação e maturação de suas propostas (daquela parcela que efetivamente tem algum grau de consistência e foge ao modismo raso) é longo. Ou seja, dificilmente veremos, inclusive pelo porte e impacto delas, resultados que contribuam para mais eficiência do setor como um todo no curto prazo.

E o que dizer sobre a tão falada mudança de foco no modelo assistencial? Como bem destacou Manoel Cardoso em recente post no LinkedIn, “hoje as fichas estão todas apostadas em cuidar das pessoas antes que adoeçam.” De fato, temos visto um movimento generalizado, de abandonar o discurso e partir para a prática nesta direção. Mas, não nos iludamos, esta será uma gestação de longa duração.

Em tempo, teremos ainda um ano de eleições o que faz do ano de 2022 um ano ainda mais desafiador acrescentando incertezas adicionais aos rumos do país.

Resumindo, o ano de 2022 tem tudo para se traduzir num ano nervoso. De um lado temos certezas desafiadoras de curto prazo e, de outro, inúmeras incertezas e, ainda, promessas e expectativas apenas de médio longo e longo prazo.

Em parte, este é o preço que coletivamente pagamos pelo baixíssimo endereçamento de ações voltadas para uma maior eficiência do setor ao longo dos últimos anos.

Apertem os cintos e pensem fora da caixa!